quinta-feira, 4 de junho de 2009


A casa esta construída na duna e separada das outras casas do sítio. Esse isolamento cria nela uma unidade, urn mundo. o rumor das ondas, 0 perfume do sal, 0 vidrado da luz marinha, 0 ar varrido de brisas e vento, a cal do num, os nevoeiros imóveis, 0 arfar ressoante do mar estabelecem em seu redor grandes espaços vazios, tumultuosos e limpos onde tudo se abre e vibra.
A casa e construída de pedra e cal e a sua frente esta virada para 0 mar.No andar de cima da fachada a três janelas e uma varanda com grades de madeira. No andar de baixo a três janelas e uma porta. Essa porta, as janelas e as grades da varanda estão pintadas de verde. No chao, ao longo da parede, corre urn passeio de pedra que separa a casa das arcias da duna. Para aMm das dunas a praia estende-se a todo o comprimento da costa e só 0 limite do olhar a limita. E, de norte a sul, ao longo das areias, correm três linhas escuras e grossas de algas, búzios e conchas, misturados com ouriços, pedaços de cortiça e pedaços de madeira que são restos de bóias e de barcos. Sobre a areia molhada que a man: cheia alisou 0 poisar das gaivotas deixa finas pegadas triangulares, semelhantes Oi escrita de urn tempo antiqufssimo. As traseiras da casa dão para urn jardim inculto e rude e áspero onde 0 vento que dobra os arbustos se precipita e dança em volta do poço redondo.
o chao esta coberto de pequenas pedras soltas que rangem e saltam sob os passos. Presa num arame a roupa lavada a secar ao sol estala e palpita como as velas de urn navio. A norte, a leste e a sul 0 jardim e limitado por três muros toscos feitos de calhaus de granito sem reboco. No muro do fundo, que da para a rua deserta onde os plátanos sonham devagar a própria sombra, ha uma cancela que continuamente bate e gira e geme no vento.
Vai-se escangalhando dia a dia e, quando os gonzos rebentarem, ficara muito tempo cafda no chao sem que ninguém a apanhe. No lado poente, onde os dias duram e Illzem e se arrastam, 0 jardim avança pela duna e
confunde-se com a praia, apesar dos pilares de granito que marcam os seus limites. Dali se avista, para 0 sul, no extremo da distancia, para la da foz do pequeno rio onde a costa se encurva levemente, uma cidade que vern ate Oi
orla do mar. 0 seu recorte esfuma-se urn pouco nas névoas marítimas mesmo quando 0 tempo este radioso. Porem, em certos dias, a cidade de repente torna-se extremamente nítida e concisa, quase geométrica, e ve-se claramente a torre aguda e fina da igreja. Entao sabe-se que vai chover.
Entre a casa e a cidade longínqua estendem se as dunas como urn grande jardim deserto, inculto e transparente onde 0 vento que curva as ervas altas, secas e finas faz voar em frente dos olhos 0 loiro dos cabelos. Ali crescem também os Rios selvagens cujo intenso perfume, pesado e opaco como 0 perfume de urn nardo, corta 0 perfume árido e vítreo das areias. Dentro de casa 0 mar ressoa como no interior de urn búzio. Quando abro as gavetas a minha roupa cheira a maresia como urn molho de algas. Profundos os espelhos reflectem demora lamente os dias. E em frente das janelas 0 mar brilha como inumeráveis espelhos quebrados. Os m6veis são escuros e finos, sem'verniz, encerados. 0 chao esfregado, as paredes caiadas. Em todas as coisas esm inscrita uma limpeza de sal. A exalta9ao marinha habita 0 ar. A casa e aberta e secreta, veemente e serena. Nela 0 menor ruído - tinir de IOU9a, degrau que range, respira9ao do vento, comboio que ao longe passa e escutado. A casa esta atenta a cada coisa.
Todos os dias a renovam. A mais leve nuvem que passa ensombra 0 vidro dos espelhos. Nela cada dia e único e precioso como se contivesse a totalidade do tempo. No brilho da mesa, na transparência do copo, ha como que uma intensidade repousada. Quem chega pelo lado de trás da casa entra num corredor largo onde ha urn grande armário de madeira escura no qual estão guardadas loi9as. A direita, depois da copa, fica a cozinha onde uma pequena mulher temível reina em frente ao fogo. A cozinha e 0 antro da casa. E escura no interior da casa branca. Nela secam as ervas e as chaleiras gemem e solu9am como se sofressem. Apesar do fresco cintilante dos peixes, apesar do vermelho das carnes, apesar do amarelo dos lim6es, do verde polido dos pimentos empilhados no prato de barro, apesar do orvalho das manhas que treme ainda na dureza tenra das grandes couves redondas e fechadas, a cozinha, com seus ferros, suas chamas, suas facas agudas, seu cantar de chaleiras, seus fumos, seu frigir de 6leos, seu cheiro de amêndoa, gordura, fogo e fruta, terno algo de inquietante que acompanha 0 longo catalogo de malefícios, desgra9as, acidentes, doen9as, perigos, prenúncios e amea9as suspensas que a pequena mulher temível continuamente recorda em frente do fogo. A esquerda da copa, no lado da casa que da para a praia, fica a sala de jantar. Tern no meio uma mesa comprida rodeada de cadeiras e em cada ângulo dos muros pequenas cantoneiras de madeira. No centro da mesa ha urn fruteira redondo
onde ma9as vermelhas se recortam sobre a madeira escura e contra a cal das paredes. Polidas e redondas as ma9as brilham e parecem interiormente acesas, como se as habitasse 0 lume de uma intensa felicidade a qual responde o luzir do mar cujo azul cintila entre as persianas. E, quando as vidraças esUio abertas, 0 perfume seco das dunas mistura-se com 0 perfume das ma9as. Da sala de jantar passa-se para uma sala quadrada onde ha uma porta que da directamente para 0 patamar de pedra que confina com a duna. Quem vern de fora sacode os pés antes de entrar para niio encher a casa de areia. Ali as cadeiras de vime pintadas de castanho quase preto fazem urn círculo aroda da mesa baixa onde 0 cigarro poisado no cinzeiro arde sozinho ao lado de uma jarra cheia de dálias vermelhas. Nesta sala reinam as fotografias. Cercadas pelas molduras de prata, ora ovais ora redondas, ora rectangulares, as fotografias estabelecem, dentro do tempo, outro tempo, e, dentro de casa, outras casas e lugares e jardins. Verdes jardins sombrios e secretos cujo sussurrar se funde no silêncio. Largas salas de muros claros com mobílias império e cortinados brancos, onde respira a brisa. Claras varandas debru9adas sobre 0 tanque rodeado de vasos. Salas, varandas, jardins habitados por personagens que são, todos eles, estranhamente belos: como se 0 seu corpo fosse a sua alma. Talvez a arte do fot6grafo os tivesse idealizado, talvez o tempo tivesse feito uma escolha, ou talvez que, nessa época, s6 as pessoas belas fossem fotografadas. No papel semi-brilhante e serni-ba90 das fotografias pessoas e lugares, como se 0 tempo ali fosse outra coisa, vivem, sem cessar, a paixão e veemência do instante objectivo: a mao polida pela penumbra e pela luz e que docemente poisa sobre a mesa, 0 perfil sereno e claro com 0 cabelo brilhando sobre 0 vestido escuro, 0 colar de contas grossas em redor do peSC090 fino, a pedra da escada, a sombra da tília sobre os ombros, a hera cobrindo 0 granito do muro, 0 longo corredor que tern, ao fundo, uma área de cânfora sob 0 quadro do homem a cavalo, 0 quarto onde 0 rosto emerge branco da sombra, enquanto 0 espelho, ao fundo, mostra 0 outro lado do perfil. A parte de trás da casa forma urn L pois c lado sul se prolonga numa ala formada por quatro quartos dispostos ao longo do corredor que contorna a casa. Das janelas desses quartos virados para 0 sul nao se vê 0 mar: ve-se a chorona de grossos dedos verdes e de flores amarelas e roxas que cresce no jardim de areia, ve-se 0 muro de granito e, para hei do muro, a duna onde as ervas secas e transparentes desenham 0 ar e, aqui e alem, ao longe, se avistam telhados, e se ouve, solitário, 0 ladrar dos cães. No andar de cima, mais pequeno do que o andar de baixo, ha s6 quatro quartos. Para eles se sobe pela escada de madeira que estala e canta sob os passos acompanhando as idas e vindas da casa. o quarto que fica ao cimo da escada, a esquerda de quem sobe, e urn quarto pequeno onde a cama enche a parede do fundo, e a c6moda ocupa, quase por inteiro, a parede que fica ao lado da porta e em frente da janela. Por cima da c6moda ha urn espelho onde se vê 0 mar. A cama e a c6moda são m6veis antigos,amplos e pesados e atravancam urn tanto 0 quarto onde nao ha muito lugar para 0 movimento das pessoas. E urn quarto para dormir ou para longas sestas semi-acordadas em tardes de Agosto e nortada, quando 0 vento cintila, 0 sol cintila e a portada verde bate. Quando esta frio corre-se 0 vidro da janela de guilhotina e entao o exterior parece nebuloso e fosco porque os vidros entre os caixilhos de madeira estão picados e despoluídos pelo l110rder do sal. No fundo do corredor, no outro extremo desse andar, ha urn quarto grande e comprido, orientado de este a oeste no sentido do comprimento, e todo atravessado pela (Hz que vern do mar. E urn quarto simultaneamente luminoso, esverdeado e sombrio. Nas suas penumbras brilham pontos de oiro. E PCI reflexos vagabundos que vagueiam entre loi9as , vidros, pratas, espelhos. No ar paira 0 perfume que sobe de urn frasco de vidro doirado e preto que alguém deixou destapado. Uma nuvem de fume azul sobe muito lentamente. 0 quarto esta chie{) de livros empilhados nas mesas, na estante e mesll10 nas cadeiras. Livros de capas amarelas e brandas e cinzentas. Alguns, dobrados ao meio, mostram a cor de trigo do papel e 0 desenho contínuo e serrado das letras. o quarto tern algo de glauco e de doirado como se nele morasse uma mulher de olhos verdes e cabelos loiros, leves e compridos, de urn loiro brilhante e sombrio, e cujo perfume e 0 perfume do sândalo. A beleza da sua testa e grave como a beleza da arquitrave de urn templo. Nos seus pulsos hei! urn quebrar de caule. Nas suas maos, através da finura da pele e do azul das veias, 0 pensamento emerge. Nesse quarto se vê a pausa em 'que 0 instante, de súbito, surpreende e fita e enfrenta a eternidade. E ali se vê 0 brilho vivo que navega no interior da sombra. Ali se ouve a linguagem que, como nenúfar, aflora a tona das águas paradas do silêncio. Porque 0 quarto sussurra como se fosse 0 interior de uma tília onde palpitam miríades de folhas verdes cujo reverso e branco e que batem como pálpebras, ora revelando ora escondendo 0 interminável brilho dos olhos magnéticos, verdes, cinzentos, azuis e desmesurados como mares. Ali 0 ar, em frente dos espelhos, oscila e parece arder como se as maos, macias como pétalas de magn6lia, alisassem e torcessem longas madeixas de cabelo denso como searas e leve como 0 fogo. No entanto, as vezes 0 espaço torna-se achai apaixonadamente vazio, como se apenas a povoasse urn longo e mon6tono e alucinado mar e tudo fosse impossibilidade, separação e distancia, ou como se aquele quarto fosse 0 umbral do vazio, do indizível, da solidão total, do caos, da noite, do indecifrável. E ali que, nas noites de vento sue, incide com mais forca 0 clamor do temporal. Entao, as vezes a janela abre-se de repente e 0 cheiro das flores selvagens da duna passa através da casa. Esse quarto grande e comprido comunica com urn quarto pequeno e quadrado, onde a parede da esquerda esta quase totalmente ocupada par urn toucador de mogno e mármore que tern, no centro urn grande espelho oval. No toucador reinam os boi6es e os frascos, as escovas e os pentes. A 0 frasco de vidro dentro da caixa verde, a caixa de loiça, a tesoira, 0 anel esquecido, a exare cafda. Quem sai do quarto do fundo e espreita pela janela do corredor que da para 0 pátio das traseiras vê, la fora, os dois perdigueiros que erguem a cabeça quando alguém, com 0 n6 dos dedos, para os chamar, bate nos vidros. Entre 0 quarto do fundo e a escada, exactamente no centro da casa, fica 0 quarto que da para a varanda de madeira pintada de verde. Nesse quarto os m6veis - 0 diva, a mesa estreita e baixa, a pequena c6moda com 0 espelho, 0 armário - estão encostados a parede e o quarto tern, no centro, em frente do espelho, urn espace;:o livre como urn palco onde a luz, 0 nevoeiro e os gestos dance;:ma. Sobre a mesa verde, ao lado dos cadernos de capa de oleado, onde, na leve escrita acinzentada do lápis, as palavras se alinham dia ap6s dia como se emergissem dos dias, esm uma jarra de vidro coalhado azul cheia de cravos cujo perfume se recorta, nítido e delimitado, no perfume salino do ar. Nas paredes brancas reflecte-se uma grande claridade de areal e 0 sabor a algas, como urn grito de contínua alegria, invade todos os espace;: os, gavetas, armários, roupas, caixas, livros. Aqui, de manha, se e acordado por urn marulho de vaga e 0 dorso do mar coberto de brilhos cintila entre as persianas como urn peixe na rede. 0 fulgor exterior assedia as orlas da penumbra. No centro vazio do quarto pode-se dance;:ar. Os gestos deslizam entre 0 animal e a flor como medusas. E, as vezes, de súbito, uma gaivota atravessa, sem 0 quebrar, 0 vidro dos espelhos. Porem, como urn jardim Zen, 0 quarto e também urn lugar de contemplas;:ao. A luz Elisa. 0 espace;:o esta atento, 0 silêncio imóvel. Mas esse silêncio e essa aténs;:ao recebem em si a larga respiras;: ao oceânica que no quarto implanta seu tumulto ébrio e lúcido. A na casa algo de rude e elementar que nenhuma riqueza mundana pode corromper, e, apesar do seu halo de solidão e do seu isolamento na duna, a casa nao e margem mas antes convergência, encontro, centro. Quem nas janelas do corredor olha para fora e vê 0 muro de granito, as arvores na distancia e os telhados a oeste, aquilo que vê aparece-lhe como urn lugar qualquer da terra, como urn acidente, urn lugar ocasional entre 0 acaso das coisas. Mas quem do quarto central avança para a varanda efe, de frente, a praia, 0 céu, a areia, a luz e 0 ar, reconhece que nada ali e acaso mas sim fundamento, que este e um lugar de exaltação e espanto onde 0 real emerge e mostra seu rosto e sua evidência. Pelo gesto de dobrar 0 pescoço e de sacudir As crinas, as quatro fileiras de ondas, correndo para a praia, lembram fileiras brancas de cavalos que no continuo avançar contam e medem o seu arfar interior de tempestade. 0 Tombar da rebentação povoa 0 espaço de exultação e clamor. No subir e descer da vaga, 0 universo ordena seu tumulto e seu sorriso e, ao longo das areias luzidias, maresias e brumas sobem como um incenso de celebração. E tudo parece intacto e total como se ali fosse o lugar que preserva em si a força nua do primeiro dia criado.
Resumo

A casa do Mar
É feita uma descrição de uma casa construída numa duna de uma praia e que estava voltada para o mar e também é feita uma descrição da praia.
A praia estava cheia de conchas e de algas e também de restos de barcos e as gaivotas poisavam na areia.
Nas Traseiras da casa havia um jardim que avançava para poente pela duna e dentro de casa o mar ressoava como num búzio.
Quando o narrador abriu uma gaveta cheirava a maresia e a casa era serena pois quase nunca se ouvia barulho.
Quem ia aquela casa entrava por um corredor onde havia armários de loiças e a escura cozinha e ao lado da cozinha a sala de jantar com uma mesa rodeada de cadeiras, da sala de jantar passava-se para uma sala quadrada com uma porta para a duna e essa sala estava cheia de Fotografias.
A parte de trás da casa formava um L porque a Sul prolonga-se formada por quartos de onde se via o jardim.
O andar de cima era mais pequeno do que o de baixo por onde se ia por uma velha escada de madeira e onde o quarto à esquerda era um quarto pequeno onde a cómoda ocupa quase toda a parede no fundo do corredor há um quarto grande e luminoso e que esta cheio de livros mas muitas vezes torna-se vazio e é ali que incide com mais força o clamor da tempestade.
Aquela casa tem algum ar de rude.
Neste conto a narradora faz-nos uma descrição de uma casa que pelo sentimento que mete nesta descrição, esta será uma casa com que a narradora nutrira algum sentimento.


Estrutura

Exemplo de descrição: “A casa está construída na duna e separada das outras casas do sítio”
Exemplo de narração: “Quando abro as gavetas a minha roupa cheira a maresia com um molho de algas”
Personagens Principal: narradora
Composição das personagens
Personagem Plana: narradora
Caracterização física: “A parte de trás da casa forma um L”
Caracterização psicológica: “Há na casa algo de rude e elementar”
Espaço: “A casa esta construída numa duna…”
Narrador: Participante – Autodiegetico “Quando abro as gavetas…”

Trabalho realizado por:
João Luís Tomé

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